sexta-feira, 10 de maio de 2013


VERDADE VARANDISTA (A SECO)

É bonito também ver um lampejo de lucidez arrebatar um sonhador convicto. E como tivesse presenciado alguma façanha do Tó (Brandileone, do 5 a Seco), que de certo lhe atingira o ego, Tomaz, em tom de autocrítica e não sem o deboche que lhe é peculiar, indagou: "por que nós (os Varandistas) passamos a imagem de bêbados?" Ali, no cenário daquela fatídica e controversa padoca, um último romântico parecia, enfim, entender certas coisas sobre nossa trajetória – ou sina –  e com a leveza que só cabe aos grandes. "Bem, talvez porque estejamos sempre bêbados mesmo" – ainda pensei. Mas é claro que a pergunta ficou suspensa, pairando no ar de nossas reflexões, de nosso mea culpa, como se a julgar pela postura de Tó & Cia, pudesse se justificar o nosso fim (e alcoolismo) precoce!

Antes disso, porém, no último show do Sarau, – projeto cujo conceito, a meu ver, não se assemelha nem de longe à proposta varandista (e também por essa razão é que participo, mas isso renderia outra crônica, quiçá um ensaio, com ares de novela, sim, mas nunca um romance) – havíamos convidado os nossos anfitriões (!) paulistas ao palco do Tom Jazz. Pois bem. Em nossa estreia em São Paulo, lá estavam, além do Tó, o Vinícius Calderoni e o Leo Bianchini nos agraciando com uma canja.

Sucede que lá pelas tantas, este que vos fala (já bêbado, confesso) decide apimentar ainda mais o que, na verdade, só parecia esquentar a nossa cabeça. Contei àquela pequena multidão que lotava a casa numa fria noite de primavera, sobre um certo e extinto "bando" reunido em fins da última década e de uma possível rixa com o 5 a Seco, ali presente. Depois olhei para os meninos como que a perguntar: "e então?" – ao que o pobre Leo, de pronto, responde com um aceno de cabeça e um polegar em riste irrefutáveis – sim, havia uma rixa! Os outros (inclusive os "nossos"), embora tímidos e menos certos da polêmica, não chegaram a se desconsertar nem tampouco se amarelaram os sorrisos. Tudo se deu, é claro, em tom de brincadeira, como, afinal, teria de ser.

Chegamos até a retomar a discussão, tempos depois na Pizzaria Guanabara, John, Aureo, os Pedros (Altério e Viáfora, também do 5) e eu, sem conclusões muito definitivas, acho – talvez estivéssemos bêbados ou eu estivesse mais bêbado que eles e não lembro se chegamos a conclusões muito definitivas. Enfim... Nunca soube ao certo o que pensam nossos arquirrivais mais queridos sobre o tema e acredito, pela seriedade e destreza com que tocam as coisas, esse embate nunca lhes deva ter causado frisson. Nem a nós, pensando bem, mas por razões opostas. Estávamos sempre tão ensimesmados que, em tempos remotos, onde a tal peleja teria se dado, no auge de nossa euforia e soberba, mal tomávamos conhecimento de que tínhamos "concorrência".

Fato é que, se havia uma espécie de corrida pelo ouro, ainda que inconsciente, perdemos o bonde da história sob o lema tragicômico da bandeira que empunhamos desde sempre: "tranqüilidade, vai dar tudo errado!" A máxima de Caio Sóh, no entanto, não é um convite à resignação. Ao contrário, é um brado pela ingenuidade perdida e, em nosso caso, uma convicção no afeto levado às últimas conseqüências (vide a teoria do Homem Cordial, se não for demasiada pretensão!). Por isso hoje, ainda que o assunto não me queime tanto a mufa, quando penso no que poderíamos ter feito diferente, absolvo-nos de qualquer imprudência, imperícia ou negligência cometida – desconfio até que nem bebíamos como agora! Deixo ao tempo a missão de fazer jus a esse encontro para além de nossa memória, o que já não é pouco, agradeço a sorte de sermos amigos para além do mercado e de existir, absoluto, o 5 a Seco para além de qualquer varanda, sacudindo os corações em seus varais. Viva os bons ventos da nova música brasileira!

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