sexta-feira, 10 de maio de 2013

nunca fui de esquerda. não simpatizo com os ideais de Marx, Lenin, Trotski, o diabo. não acredito em Cuba como uma experiência romântica nem sou afeito à imagem de Che estampada nas camisetas de estudantes da Puc, pronto, falei! cresci atento às palavras de meu pai quando discorria sobre 1964: - o anti-golpe... – sabe lá. eu era ainda mais jovem do que sou quando descobri ser tarde demais para esse assunto, peguei meu violão e criei asas para além da arena (ai, os trocadilhos!). quem pensa o mundo tanto assim depois dos vinte? é tudo uma questão de bar ou, quando muito, sofrer de amor e "falar mal do mundo...". neste Natal, porém, ao contrário dos demais, onde o presenteado era eu e não havia restrições financeiras nem a expectativa pelo modesto adiantamento da gravadora, muito menos a preocupação se o cheque especial que o Itaú me concedera levaria metade do mérito pela minha obra, neste Natal é que me deparei com o espectro do capitalismo refletido nas vitrines de um shopping! eu que só queria ser um bom tio, um bom padrinho, um filho exemplar, um namorado fofo... qual o quê! meu fracasso parecia evidente em códigos de barra e em cada sorriso amarelo de vendedores solícitos. tudo se mostrava a mim como é: caro! mas não se trata, aqui, de dinheiro, acredite. o que é irremediavelmente caro é o tempo. a mágica do capitalismo nos coloca diante de um paradigma de tempo, através do qual as crianças crescem, os pais criam rugas, os relacionamentos fazem bodas e os seus laços residem no valor deduzido de mercado. há um senso qualquer que me coloca hoje diante de uma responsabilidade afetiva sem espaço para cartinhas singelas ou presentes usados. minha relação com minha sobrinha, por exemplo, passou a custar vinte e poucos reais compilados na biografia do Fiuk! em suma, o mercado tornou démodé a boa (e velha) intenção, o que não chega a me assustar, repito: o problema é o tempo! não é fácil, ainda mais em época de crise, virar Papai Noel da noite pro dia. mais do que um saco vazio, me pesa a constatação dos primeiros fios de barba brancos.

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