tinha uma menina paulista, paulista
mesmo, não com um s de paulista inexplicável, mas com o sotaque de paulista
completo, embora sem aquele ar blasé que paulista costuma ter. e era uma menina
do mundo, o mundo cabia mesmo em suas mãos, não importava o resto do mundo, ela
punha o mundo nas costas com uma leveza que ninguém no mundo tem. e eu que sou
carioca e não sou bobo nem nada, porque carioca, a gente sabe, não é bobo nem
nada e acha tudo que tem um rei na barriga e vai ver tem mesmo, tratei de chegar
junto e chegar manso – não tão manso que é pra não assustar de tanta mansidão,
que aí também é chato e eu não sou mineiro. então a coisa se deu toda assim,
meio lá e cá, mas a gente que é carioca e não é bobo nem nada e vai ver tem
tudo um rei na barriga, a gente sabe que aqui é que a coisa se dá de verdade,
né? é essa coisa da praia, eu acho, e uma preguiça no corpo e um não sei quê
mais que faz a coisa ficar ainda melhor e coisa e tal. só que agora, sei lá,
fica essa praia toda, pra quê tanta praia?, e um vazio na alma, pra quê tanta
alma?, que a gente até se atrapalha e se pega pensando, agora veja!, se pega
pensando em partir. e por quê não São Paulo? aquela garoa e a Rua Augusta e o
John, o Lenine, a Bruna, o Toni, o Paulinho, o 5 a Seco, o Pedro Barnez, por
que não? claro que tem o lance da grana, mas grana sempre foi mero detalhe pra
mim, eu que não sou rico nem tenho que me preocupar com grana e São Paulo é, afinal,
o lugar onde a grana está, além dos japoneses e tudo mais. acontece que sou
carioca, carioca acha tudo que tem um rei na barriga e eu tô mais querendo é
ficar de boa porque é de boa que a vida se dá. daí, quando der eu dou um pulo
lá e trago de volta e de vez aquela paulista, paulista mesmo, não com um s de
paulista inexplicável. além do quê, ela é do mundo, o mundo cabe mesmo em suas
mãos, ao contrário de mim, carioca, cujo mundo, a gente sabe, é enorme, vai do
Leme ao Pontal e gira ao redor do umbigo. ser carioca é ter tudo um rei na barriga
e não ser bobo de deixar a Isa dando sopa em Sampa.
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