na ponta da linha evolutiva que compreende aquarianos como eu, Carol, Bolinho, Bruna, Garcia, Côca, Paulinha e – por que não dizer? – Gabriel Braga Nunes, está o Toni. quando não faz a vida parecer uma festa, ele deixa a coisa leve ao seu redor, nem parece artista. toni, aliás, nem liga muito pra música, quase não ouve nada senão os amigos. não bate o pé nem ameaça, quer mais é se livrar de tudo logo: do ensaio, da gravação, do show. gosta mesmo de ficar em casa com o Simba, fazer café, jogar e receber a Michelli cansada do trampo. nem parece aquele! ah, sim, porque quando o conhecemos, a vida era, de fato, uma festa, e quem terá chamado a polícia permanece um mistério. não havia então juízo, saideira, ressaca no dia seguinte ou dia seguinte sequer. numa dessas, já de manhã (!), lembro o Caio, maravilhado com a oportunidade de conviver com o Cazuza: - não é incrível? – estávamos, pois, diante de um eco fenômeno cujo timbre e trejeitos nos reportavam a um lugar qualquer de importância! e, embora o Vidal tenha cantado a pedra, não percebíamos, porém, àquela altura, – nem o Toni – que aquele “menino do Rio” de Sampa, teria muito mais a dizer se descobrisse a própria voz. pois bem. não se sabe ao certo quando ou como, mas Caju, como gosto de chama-lo, segurou a onda, retomou os ares da garoa e se apaixonou loucamente, o que sossega e motiva ao mesmo tempo. passou na "peneira" do Sarau, para espanto dos fãs da Alvarenga, e tornou-se a grande aposta da gravadora, que já pendurara as chuteiras do Chaudas – coisas do mercado! para nós varandistas, ficam o orgulho, a torcida e a sensação de ter presenciado a ascenção de uma estrela no lado escuro da vida. o nascimento de um ídolo, meio Lou Reed, Melodia, Allen Ginsberg e Rimbaud às avessas. um Cazuza redimido, sem fórcepes, na paz. somos, então, reis magos pós-modernos, com incenso, mirra e vodka no rastro de um Menino Deus. só as mães são felizes.
prosaico
quinta-feira, 6 de junho de 2013
quinta-feira, 23 de maio de 2013
você sabia que lá pelo tempo das cavernas, a mulher é que era “o cara”? tipo assim... por dar à luz um novo ser, fenômeno até então inexplicável, uma vez que não se atribuía a gravidez à prática do sexo, as
sociedades ultraprimitivas meio que mistificavam suas mulheres. elas eram, então, seres divinos, iluminados ou coisa que os valha, o homem mesmo só prestava pra
caçar e fazer o serviço pesado. quando este percebeu, porém, que de cada caroço cuspido na terra brotava um enorme pé de qualquer coisa, juntou dois e dois, tornou-se papai e passou a se valorizar e a exigir seus direitos. criou-se assim o conceito de monogamia, propriedade privada, o ciúme e suas derivações, tudo na base da paulada, é verdade. à força, o homem se impôs através dos tempos e toda briga de bar
ou grande guerra tem origem na busca por poder e território, quase sempre o
campo minado do coração de uma mulher. não há no mundo outra coisa para o macho senão a sua afirmação, a ilusão de sua importância e singularidade. penso nas
conquistas femininas ao longo do último século, nessa coisa de amor
cavalheiresco a que se refere o Deleuze, no retrocesso geral que vocês,
Afrodites de toda a sorte, vêm hasteando, e a parte mais cruel dessa transição, dessa avalanche
de libido prestes a romper a casca do novo, é a nossa eterna menina pensar
que tudo o quanto a fez suspirar ontem, de prazer, inclusive (!), foi mentira. sei que amores vêm e vão, o que é saudável, e o próximo há de ser, por que não, melhor – nós evoluímos, pois. mas parece que a memória emotiva
da mulher, ao menos no que diz respeito às suas últimas e avassaladoras
paixões, é mais frágil e curta que a do homem. talvez isso, mais do que o
patriarcado de cinco mil anos, explique o maior número de poetas, românticos em
geral e suicidas notáveis do gênero masculino. ao passo que verdadeiros homens
das cavernas têm ainda hoje levado muitas mulheres, ditas esclarecidas, para a
cama. e o mais impressionante: na conversa!
sexta-feira, 10 de maio de 2013
é uma conta sem fim: o artista
que se pinta pintando que se pinta pintando que se pinta... e por aí vai. pois
se o nariz de palhaço de cada um é o que chega antes, todo pranto, desdém ou ar
blasé, esconde atrás outro nariz de palhaço sobre outro pranto, desdém e ar
blasé atrás de... ufa! num clique, porém, o artista, não
menos hilário e complexo que sua “obra”, Márcio Nunes, captou tudo que pode
conter o ridículo de se despir, em todas as acepções da palavra, diante de uma
câmera. de posse apenas da tristeza e do secular artifício clownesco, nesse caso um nariz negro em sinal de luto, os amigos do
fotógrafo, além do próprio – foto da foto da foto etc. – encararam a lente para
um inusitado ensaio sobre a alma humana. como uma espécie de preparador de
elenco, sem os requintes de crueldade de uma Fátima Toledo, é claro, mas com a
persistência de quem, por conhecimento, sabe como arrancar o “melhor” de cada
“ator”, Márcio registrou em seu estúdio, diferentes “interpretações”, através
de rituais, os mais diversos. conta-se, por exemplo, que uma
famosa atriz (atriz mesmo!), já embriagada, ousou lanhar-se toda, possuída da emoção de sua
“cena”. à exceção da regra, teve moça que preferisse não cobrir os seios com as
mãos e marmanjo se recusando a tirar a camisa. houve ainda quem se debulhasse
em lágrimas, algumas expressões sisudas e até semissorrisos. não se trata, pois, de um retrato
fiel da angústia, mas um flagrante daquilo que não se revela, a imagem subliminar
entre uma e outra pose. não o que é invisível a olho nu, mas o próprio olho nu
quando distraído de si. quem, no entanto, como este que
vos fala, por timidez ou vaidade (no fundo a mesma coisa!), encarou tudo como
uma aventura estética, desviou do próprio olhar, recorreu ao cigarro e não se
permitiu ver exposto o íntimo de sua alma, certamente se saiu bem na foto... e bancou o palhaço, o que já não é pouco!
sobre a gênese do espírito criativo: erámos nós os deuses?
uma ou outra coisa a cerca do zodíaco aprendi com minha mãe,
astróloga honorária. aprendi, por exemplo, que à tríade dos signos de elemento
fogo pode-se aplicar a seguinte metáfora: o Áries dá a ideia, o Leão descola o
isqueiro e o Sagitário incendeia. Caio Sóh, no entanto, a despeito de se ater a
esta última, sua característica astral correspondente, decidiu por conceber,
produzir e estrelar o Big Bang ele mesmo – sim, o universo é, ao mesmo tempo,
sua obra e Caio em si, não obstante seja, de acordo com a crença, chamá-lo
Deus. ainda sobre “astros”, o Varandista Pedro Barnez, que é também metade
cavalo, dispensa o prognóstico e galopa igualmente intenso e em sentido oposto
o universo “imaginário” de Caio, mais ou menos como um alter-ego divino. e quem
há de provar que este não é, em verdade, aquele e vice-versa? desta forma, se
somos todos uma ilusão, Pedro representa um estado de consciência “supremo” que torna viável a aventura de existirmos como
coisas inventadas mesmo e não, como querem os céticos, uma submatéria da grande
explosão (ou porre!). mas em algum lugar entre o passado e a realidade, para
além da ciência e do sagrado e com um pé em cada corda da poesia de um e outro
(infinitas porque paralelas), me inventei à minha maneira: o vão central. e se,
de dentro de meu Aquário insólito, num salto, passei a integrá-los, talvez como
a outra face de um triângulo isóscele onde ora me equilibro, ora “caio” – não
temos vértice, pois –, o que nos aproxima e reflete é, de fato, o afeto, vê-se
a olho nu. anos-luz depois do fim, Marias ainda hão de reluzir nas varandas. estrela é uma questão de estar e poesia, maneira de dizer.
lembro de minha irmã sonhar com o amor de sua vida – já morto – e este lhe dizer em alemão: “a vida é somente um sonho”. lembro a Carol em uníssono com o Mário, revelando os mistérios de Calderón de La Barca: “sonhos, sonhos são”. lembro o Caio Sóh na canção que só eu lembro e de reconhecê-lo em suas palavras: “será que o sonho adormeceu?” lembro de mim, mais sábio e jovem, em destemidas tatuagens por aí: “não durma antes de sonhar”. lembro tanta coisa inesquecível que periga a memória não comportar o inédito e eu me pegar sonhando com um passado fictício por puro golpe de imaginação, desde um gol do Romário com a camisa do Botafogo a uma verdade varandista lúcida, harmônica e abastada – maldades do inconsciente! não sou, porém, o que se costuma chamar de saudosista. aliás, o que mais prezo em minhas lembranças é o fato de estarem intactas, me orgulhe eu delas ou não. ao contrário do ditado russo que afirma que o futuro é certo, mas o passado muda a todo instante, gosto de me ater à beleza simples do ontem perfeito – porque acabado – e do amanhã em branco. não desperdiçaria um tostão do que sou para reviver ou recriar coisa alguma. se eu tivesse escolhido ser comediante, por exemplo, incluiria esta resenha num livro intitulado “crônicas agudas.” quem escreve a sério, no entanto, só é engraçado quando erra – não que o humor seja um erro, mas para um poeta metido a escrever prosa, um erro soaria cômico, ao passo que para um médico, o erro é, senão, algo trágico – e eu até posso errar, claro. digamos, apenas, que eu não queira e prefira nem dar nome ao livro, lançá-lo já seria uma pachorra. se eu fosse um comediante, pois, esta resenha teria alguma graça ou eu seria um embuste, um mero cronista com nariz de palhaço e sem platéia ou com a platéia errada, o que tampouco me interessa. ainda bem que “a gente é para o que nasce” e não se nasce duas vezes, como acreditam os cardecistas. se há, portanto, alguma graça e certeza nessa vida é que a vida é mesmo essa e só. “não basta!” – diria Silvana, vestida de Carol. penso no ‘De Repente’ e não sei bem precisar se penso na Silvana ou na Carol ou na peça ou na letra que Antônio revelava ser sua ou na própria vida quando respondo em sonho às minhas próprias palavras com palavras do Chico na canção homônima ao clássico de Calderón: “nunca na vida foste minha...”. enfim. deve haver uma palavra em alemão para este sentimento que já passou de raiva, dor e saudade.
“quem não tem dinheiro para o cigarro não deve fumar”. vi isso num filme,
não lembro qual. mas aí não sobra nada, né? não estou chorando miséria, nem
quero preocupar ninguém à toa (pretensioso eu!). é que na solidão, mais do que
na pobreza, a gente passa a rever certos valores – não, ainda não deixei o
vício – e eu sinto uma saudade, mas uma saudade que não cabe em mim. será a abstinência? saudade de
quase tudo, da semana passada se bobear. às vezes me acho um chato. a propósito, quem
leu o Veríssimo ontem? falava justamente do tema. ele classifica os mais
diversos tipos de chato – não encontrei nenhum à minha altura. engraçado que tive
a impressão perfeita de já ter lido aquele artigo. talvez, quando não tenha assunto, ele dê um "migué" e publique textos antigos – só chatos como eu lembrariam. mas, inédito
ou não, o Veríssimo é mesmo o cara! encontrei um seu livro de crônicas aqui em
Teresópolis e reli numa só noite. chato é que minha biblioteca ficou espalhada pela casa. tinha até um Sallinger na antiga adega (maturando talvez?) e um Goethe na garagem.
reparei que li bastante na minha “juventude”, de Joyce – o Ulisses que nunca
terminei – a Garcia Marquez, de Kafka a Saramago, de Nietzsche a Focault.
poesia, teatro, biografias (tem uma ótima da Nara Leão) e toda a sorte de
blablablás, fora o que deixei para a Carol na partilha. adorei foi ter
encontrado as cartinhas de ex-namoradas, muito embora as datas e fotografias
tenham me deixado mais velho num fechar de baú. o manuscrito de Jardim de Alah,
o esboço de uma entrevista comigo mesmo, o ingresso de Minutos Atrás, no Café
Pequeno, o convite de casamento do Cardoso, de quem fui padrinho. está tudo
aqui, quase como se nada tivesse acontecido – será que preciso alugar um
smoking para a cerimônia? ah, não, foi em 2004! a Luíza, aliás, estava linda de
vestido verde. até hoje fui o único homem que a levou para o altar, formávamos
um belo casal. enfim. não achei, porém, meus textos da faculdade de sociologia,
e sei também que não teria saco para tanto Marx, Webber, Durkheim e
Tocqueville. pensando bem, pra que me serviram? eu devia ter lido mais
auto-ajudas da minha irmã, tipo Pai rico, pai pobre, sei lá. queria agora estar no
Rio, batendo papo furado que é afinal o que faço melhor depois de sentir
saudades... preciso de um cigarro.quase tudo, da semana passada se bobear. às vezes me acho
um chato. aliás, quem leu o Veríssimo ontem? falava justamente do tema. ele
classifica os mais diversos tipos de chato – não encontrei nenhum à minha
altura. engraçado que tive a impressão perfeita de já ter lido aquele artigo.
talvez, quando não tem assunto, ele envie textos antigos – só chatos como eu
lembrariam. mas, inédito ou não, o Veríssimo é mesmo o cara! Encontrei um seu
livro de crônicas aqui em Teresópolis e reli numa só noite. minha biblioteca
ficou espalhada pela casa, tinha um Sallinger na antiga adega (maturando
talvez?) e um Goethe na garagem. reparei que li bastante na minha “juventude”.
de Joyce – o Ulisses que nunca terminei – a Garcia Marquez, de Kafka a
Saramago, de Nietzsche a Focault. poesia, teatro, biografias – tem uma ótima da
Nara Leão – e toda a sorte de blablablás, fora o que deixei para a Carol na
partilha. adorei foi ter encontrado as cartinhas de ex-namoradas, muito embora
as datas e fotografias tenham me deixado mais velho num fechar de baú. o
manuscrito de Jardim de Alah, o esboço de uma entrevista comigo mesmo, o
ingresso de Minutos Atrás, no Café Pequeno, o convite de casamento do Cardoso,
de quem fui padrinho. está tudo aqui, quase como se nada tivesse acontecido –
será que preciso alugar um smoking para a cerimônia? ah, não, foi em 2004! a
Luíza, aliás, estava linda de vestido verde. até hoje fui o único homem que a levou
para o altar, formávamos um belo casal. enfim. não achei, porém, meus textos da
faculdade de sociologia, e sei também que não teria saco para tanto Marx,
Webber, Durkheim e Tocqueville. pensando bem, pra que me serviram? eu devia ter
lido mais auto-ajudas da minha irmã, tipo Pai rico, pai pobre, sei lá. queria
estar no Rio, batendo papo furado que é afinal o que faço melhor depois de
sentir saudades... preciso de um cigarro.
o Chico Buarque acha Every time we say goodbye a música mais
bonita do mundo. pode ser. a música do Cole Porter adaptada para o português
por Carlos Rennó também é belíssima na voz de Cassia Eller. e, recentemente, o
Dani me mostrou uma versão de seu pai, Arnaldo Black, que faz jus à original. mas
se o Chico acha Every time we say goodbye
a música mais bonita do mundo, o que fazer com as músicas mais bonitas do
Chico? é claro que pega mal o sujeito eleger essa ou aquela música própria a
tal posto e talvez ele prefira mesmo o Cole Porter, o Gershwin, o Berlin ou o
Jobim, afinal o Chico também é fã. e eu que sou fã do Chico ainda mais que do
Porter, Gershwin, Berlin e Jobim, teria umas 20 ou 30 músicas do Chico, sozinho
ou com o próprio Tom ou com o Edu ou com o Francis, para figurar entre as 20 ou
30 mais bonitas do mundo. nesse seu último disco mesmo, a valsa Nina é, sem
dúvida, das músicas mais bonitas já feitas. o desafio é escolher uma, a música
mais bonita do mundo, como a música de Maghé Dyzi, no poema de Pedro Barnez. e tem
tanta coisa além do Chico... teve época de eu achar Dindi (olha o maestro
soberano aí de novo!) a música mais bonita do mundo. mas tem Samba em Prelúdio, Vinícius e Baden, tem
o Mundo é um Moinho, do Cartola, cuja
interpretação do Aureo, acredite!, é das melhores do mundo, tamanha a
compreensão da obra! ah, tem as músicas instrumentais do Aureo – bem, mas vamos
voltar ao quesito canção, que senão também vira zona! tem Drão, do Gil, na voz do Caetano, (aliás, Caetano cantando La Barca ou Billie Jean ou qualquer coisa, é sempre a melhor música do mundo!),
tem Nana cantando a Canção do Tempo,
de Caymmi, tem Vive, do Djavan, por
ele mesmo, Três Apitos, do Noel,
cantada por Chico! enfim. de Camisa
Amarela, de Ari Barroso, a Asa Branca,
de Gonzagão; de Yesterday ou Let it be ou Hey Jude, dos Beatles, a Fake
Plastic Trees, do Radiohead, a música mais bonita do mundo nunca é a nossa,
mas é sempre como se fosse. (se bem que o Gugu cantando A Culpa, não sei não!). é tudo o que queremos por um momento. depois
passa, como as paixões, e surge outra mais bonita e outra e outra. acho que a
música mais bonita do mundo está sempre por ser feita e para tanto é preciso
amor! Let’s do it e viva o Cole Porter!
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