quinta-feira, 6 de junho de 2013


na ponta da linha evolutiva que compreende aquarianos como eu, Carol, Bolinho, Bruna, Garcia, Côca, Paulinha e – por que não dizer? – Gabriel Braga Nunes, está o Toni. quando não faz a vida parecer uma festa, ele deixa a coisa leve ao seu redor, nem parece artista. toni, aliás, nem liga muito pra música, quase não ouve nada senão os amigos. não bate o pé nem ameaça, quer mais é se livrar de tudo logo: do ensaio, da gravação, do show. gosta mesmo de ficar em casa com o Simba, fazer café, jogar e receber a Michelli cansada do trampo. nem parece aquele! ah, sim, porque quando o conhecemos, a vida era, de fato, uma festa, e quem terá chamado a polícia permanece um mistério. não havia então juízo, saideira, ressaca no dia seguinte ou dia seguinte sequer. numa dessas, já de manhã (!), lembro o Caio, maravilhado com a oportunidade de conviver com o Cazuza: - não é incrível? – estávamos, pois, diante de um eco fenômeno cujo timbre e trejeitos nos reportavam a um lugar qualquer de importância! e, embora o Vidal tenha cantado a pedra, não percebíamos, porém,  àquela altura, – nem o Toni –  que aquele “menino do Rio” de Sampa, teria muito mais a dizer se descobrisse a própria voz. pois bem. não se sabe ao certo quando ou como, mas Caju, como gosto de chama-lo, segurou a onda, retomou os ares da garoa e se apaixonou loucamente, o que sossega e motiva ao mesmo tempo. passou na "peneira" do Sarau, para espanto dos fãs da Alvarenga, e tornou-se a grande aposta da gravadora, que já pendurara as chuteiras do Chaudas – coisas do mercado! para nós varandistas, ficam o orgulho, a torcida e a sensação de ter presenciado a ascenção de uma estrela no lado escuro da vida. o nascimento de um ídolo, meio Lou Reed, Melodia, Allen Ginsberg e Rimbaud às avessas. um Cazuza redimido, sem fórcepes, na paz. somos, então, reis magos pós-modernos, com incenso, mirra e vodka no rastro de um Menino Deus. só as mães são felizes.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

você sabia que lá pelo tempo das cavernas, a mulher é que era “o cara”? tipo assim... por dar à luz um novo ser, fenômeno até então inexplicável, uma vez que não se atribuía a gravidez à prática do sexo, as sociedades ultraprimitivas meio que mistificavam suas mulheres. elas eram, então, seres divinos, iluminados ou coisa que os valha, o homem mesmo só prestava pra caçar e fazer o serviço pesado. quando este percebeu, porém, que de cada caroço cuspido na terra brotava um enorme pé de qualquer coisa, juntou dois e dois, tornou-se papai e passou a se valorizar e a exigir seus direitos. criou-se assim o conceito de monogamia, propriedade privada, o ciúme e suas derivações, tudo na base da paulada, é verdade. à força, o homem se impôs através dos tempos e toda briga de bar ou grande guerra tem origem na busca por poder e território, quase sempre o campo minado do coração de uma mulher. não há no mundo outra coisa para o macho senão a sua afirmação, a ilusão de sua importância e singularidade. penso nas conquistas femininas ao longo do último século, nessa coisa de amor cavalheiresco a que se refere o Deleuze, no retrocesso geral que vocês, Afrodites de toda a sorte, vêm hasteando, e a parte mais cruel dessa transição, dessa avalanche de libido prestes a romper a casca do novo, é a nossa eterna menina pensar que tudo o quanto a fez suspirar ontem, de prazer, inclusive (!), foi mentira. sei que amores vêm e vão, o que é saudável, e o próximo há de ser, por que não, melhor – nós evoluímos, pois. mas parece que a memória emotiva da mulher, ao menos no que diz respeito às suas últimas e avassaladoras paixões, é mais frágil e curta que a do homem. talvez isso, mais do que o patriarcado de cinco mil anos, explique o maior número de poetas, românticos em geral e suicidas notáveis do gênero masculino. ao passo que verdadeiros homens das cavernas têm ainda hoje levado muitas mulheres, ditas esclarecidas, para a cama. e o mais impressionante: na conversa! 

sexta-feira, 10 de maio de 2013


é uma conta sem fim: o artista que se pinta pintando que se pinta pintando que se pinta... e por aí vai. pois se o nariz de palhaço de cada um é o que chega antes, todo pranto, desdém ou ar blasé, esconde atrás outro nariz de palhaço sobre outro pranto, desdém e ar blasé atrás de... ufa! num clique, porém, o artista, não menos hilário e complexo que sua “obra”, Márcio Nunes, captou tudo que pode conter o ridículo de se despir, em todas as acepções da palavra, diante de uma câmera. de posse apenas da tristeza e do secular artifício clownesco, nesse caso um nariz negro em sinal de luto, os amigos do fotógrafo, além do próprio – foto da foto da foto etc. – encararam a lente para um inusitado ensaio sobre a alma humana. como uma espécie de preparador de elenco, sem os requintes de crueldade de uma Fátima Toledo, é claro, mas com a persistência de quem, por conhecimento, sabe como arrancar o “melhor” de cada “ator”, Márcio registrou em seu estúdio, diferentes “interpretações”, através de rituais, os mais diversos. conta-se, por exemplo, que uma famosa atriz (atriz mesmo!), já embriagada, ousou lanhar-se toda, possuída da emoção de sua “cena”. à exceção da regra, teve moça que preferisse não cobrir os seios com as mãos e marmanjo se recusando a tirar a camisa. houve ainda quem se debulhasse em lágrimas, algumas expressões sisudas e até semissorrisos. não se trata, pois, de um retrato fiel da angústia, mas um flagrante daquilo que não se revela, a imagem subliminar entre uma e outra pose. não o que é invisível a olho nu, mas o próprio olho nu quando distraído de si. quem, no entanto, como este que vos fala, por timidez ou vaidade (no fundo a mesma coisa!), encarou tudo como uma aventura estética, desviou do próprio olhar, recorreu ao cigarro e não se permitiu ver exposto o íntimo de sua alma, certamente se saiu bem na foto... e bancou o palhaço, o que já não é pouco!




sobre a gênese do espírito criativo: erámos nós os deuses?

uma ou outra coisa a cerca do zodíaco aprendi com minha mãe, astróloga honorária. aprendi, por exemplo, que à tríade dos signos de elemento fogo pode-se aplicar a seguinte metáfora: o Áries dá a ideia, o Leão descola o isqueiro e o Sagitário incendeia. Caio Sóh, no entanto, a despeito de se ater a esta última, sua característica astral correspondente, decidiu por conceber, produzir e estrelar o Big Bang ele mesmo – sim, o universo é, ao mesmo tempo, sua obra e Caio em si, não obstante seja, de acordo com a crença, chamá-lo Deus. ainda sobre “astros”, o Varandista Pedro Barnez, que é também metade cavalo, dispensa o prognóstico e galopa igualmente intenso e em sentido oposto o universo “imaginário” de Caio, mais ou menos como um alter-ego divino. e quem há de provar que este não é, em verdade, aquele e vice-versa? desta forma, se somos todos uma ilusão, Pedro representa um estado de consciência “supremo” que torna viável a aventura de existirmos como coisas inventadas mesmo e não, como querem os céticos, uma submatéria da grande explosão (ou porre!). mas em algum lugar entre o passado e a realidade, para além da ciência e do sagrado e com um pé em cada corda da poesia de um e outro (infinitas porque paralelas), me inventei à minha maneira: o vão central. e se, de dentro de meu Aquário insólito, num salto, passei a integrá-los, talvez como a outra face de um triângulo isóscele onde ora me equilibro, ora “caio” – não temos vértice, pois –, o que nos aproxima e reflete é, de fato, o afeto, vê-se a olho nu. anos-luz depois do fim, Marias ainda hão de reluzir nas varandas. estrela é uma questão de estar e poesia, maneira de dizer.

lembro de minha irmã sonhar com o amor de sua vida – já morto – e este lhe dizer em alemão: “a vida é somente um sonho”. lembro a Carol em uníssono com o Mário, revelando os mistérios de Calderón de La Barca: “sonhos, sonhos são”. lembro o Caio Sóh na canção que só eu lembro e de reconhecê-lo em suas palavras: “será que o sonho adormeceu?” lembro de mim, mais sábio e jovem, em destemidas tatuagens por aí: “não durma antes de sonhar”. lembro tanta coisa inesquecível que periga a memória não comportar o inédito e eu me pegar sonhando com um passado fictício por puro golpe de imaginação, desde um gol do Romário com a camisa do Botafogo a uma verdade varandista lúcida, harmônica e abastada – maldades do inconsciente! não sou, porém, o que se costuma chamar de saudosista. aliás, o que mais prezo em minhas lembranças é o fato de estarem intactas, me orgulhe eu delas ou não. ao contrário do ditado russo que afirma que o futuro é certo, mas o passado muda a todo instante, gosto de me ater à beleza simples do ontem perfeito – porque acabado – e do amanhã em branco. não desperdiçaria um tostão do que sou para reviver ou recriar coisa alguma. se eu tivesse escolhido ser comediante, por exemplo, incluiria esta resenha num livro intitulado “crônicas agudas.” quem escreve a sério, no entanto, só é engraçado quando erra – não que o humor seja um erro, mas para um poeta metido a escrever prosa, um erro soaria cômico, ao passo que para um médico, o erro é, senão, algo trágico – e eu até posso errar, claro. digamos, apenas, que eu não queira e prefira nem dar nome ao livro, lançá-lo já seria uma pachorra. se eu fosse um comediante, pois, esta resenha teria alguma graça ou eu seria um embuste, um mero cronista com nariz de palhaço e sem platéia ou com a platéia errada, o que tampouco me interessa. ainda bem que “a gente é para o que nasce” e não se nasce duas vezes, como acreditam os cardecistas. se há, portanto, alguma graça e certeza nessa vida é que a vida é mesmo essa e só. “não basta!” – diria Silvana, vestida de Carol. penso no ‘De Repente’ e não sei bem precisar se penso na Silvana ou na Carol ou na peça ou na letra que Antônio revelava ser sua ou na própria vida quando respondo em sonho às minhas próprias palavras com palavras do Chico na canção homônima ao clássico de Calderón: “nunca na vida foste minha...”. enfim. deve haver uma palavra em alemão para este sentimento que já passou de raiva, dor e saudade.

“quem não tem dinheiro para o cigarro não deve fumar”. vi isso num filme, não lembro qual. mas aí não sobra nada, né? não estou chorando miséria, nem quero preocupar ninguém à toa (pretensioso eu!). é que na solidão, mais do que na pobreza, a gente passa a rever certos valores – não, ainda não deixei o vício – e eu sinto uma saudade, mas uma saudade que não cabe em mim. será a abstinência? saudade de quase tudo, da semana passada se bobear. às vezes me acho um chato. a propósito, quem leu o Veríssimo ontem? falava justamente do tema. ele classifica os mais diversos tipos de chato – não encontrei nenhum à minha altura. engraçado que tive a impressão perfeita de já ter lido aquele artigo. talvez, quando não tenha assunto, ele dê um "migué" e publique textos antigos – só chatos como eu lembrariam. mas, inédito ou não, o Veríssimo é mesmo o cara! encontrei um seu livro de crônicas aqui em Teresópolis e reli numa só noite. chato é que minha biblioteca ficou espalhada pela casa. tinha até um Sallinger na antiga adega (maturando talvez?) e um Goethe na garagem. reparei que li bastante na minha “juventude”, de Joyce – o Ulisses que nunca terminei – a Garcia Marquez, de Kafka a Saramago, de Nietzsche a Focault. poesia, teatro, biografias (tem uma ótima da Nara Leão) e toda a sorte de blablablás, fora o que deixei para a Carol na partilha. adorei foi ter encontrado as cartinhas de ex-namoradas, muito embora as datas e fotografias tenham me deixado mais velho num fechar de baú. o manuscrito de Jardim de Alah, o esboço de uma entrevista comigo mesmo, o ingresso de Minutos Atrás, no Café Pequeno, o convite de casamento do Cardoso, de quem fui padrinho. está tudo aqui, quase como se nada tivesse acontecido – será que preciso alugar um smoking para a cerimônia? ah, não, foi em 2004! a Luíza, aliás, estava linda de vestido verde. até hoje fui o único homem que a levou para o altar, formávamos um belo casal. enfim. não achei, porém, meus textos da faculdade de sociologia, e sei também que não teria saco para tanto Marx, Webber, Durkheim e Tocqueville. pensando bem, pra que me serviram? eu devia ter lido mais auto-ajudas da minha irmã, tipo Pai rico, pai pobre, sei lá. queria agora estar no Rio, batendo papo furado que é afinal o que faço melhor depois de sentir saudades... preciso de um cigarro.quase tudo, da semana passada se bobear. às vezes me acho um chato. aliás, quem leu o Veríssimo ontem? falava justamente do tema. ele classifica os mais diversos tipos de chato – não encontrei nenhum à minha altura. engraçado que tive a impressão perfeita de já ter lido aquele artigo. talvez, quando não tem assunto, ele envie textos antigos – só chatos como eu lembrariam. mas, inédito ou não, o Veríssimo é mesmo o cara! Encontrei um seu livro de crônicas aqui em Teresópolis e reli numa só noite. minha biblioteca ficou espalhada pela casa, tinha um Sallinger na antiga adega (maturando talvez?) e um Goethe na garagem. reparei que li bastante na minha “juventude”. de Joyce – o Ulisses que nunca terminei – a Garcia Marquez, de Kafka a Saramago, de Nietzsche a Focault. poesia, teatro, biografias – tem uma ótima da Nara Leão – e toda a sorte de blablablás, fora o que deixei para a Carol na partilha. adorei foi ter encontrado as cartinhas de ex-namoradas, muito embora as datas e fotografias tenham me deixado mais velho num fechar de baú. o manuscrito de Jardim de Alah, o esboço de uma entrevista comigo mesmo, o ingresso de Minutos Atrás, no Café Pequeno, o convite de casamento do Cardoso, de quem fui padrinho. está tudo aqui, quase como se nada tivesse acontecido – será que preciso alugar um smoking para a cerimônia? ah, não, foi em 2004! a Luíza, aliás, estava linda de vestido verde. até hoje fui o único homem que a levou para o altar, formávamos um belo casal. enfim. não achei, porém, meus textos da faculdade de sociologia, e sei também que não teria saco para tanto Marx, Webber, Durkheim e Tocqueville. pensando bem, pra que me serviram? eu devia ter lido mais auto-ajudas da minha irmã, tipo Pai rico, pai pobre, sei lá. queria estar no Rio, batendo papo furado que é afinal o que faço melhor depois de sentir saudades... preciso de um cigarro.

o Chico Buarque acha Every time we say goodbye a música mais bonita do mundo. pode ser. a música do Cole Porter adaptada para o português por Carlos Rennó também é belíssima na voz de Cassia Eller. e, recentemente, o Dani me mostrou uma versão de seu pai, Arnaldo Black, que faz jus à original. mas se o Chico acha Every time we say goodbye a música mais bonita do mundo, o que fazer com as músicas mais bonitas do Chico? é claro que pega mal o sujeito eleger essa ou aquela música própria a tal posto e talvez ele prefira mesmo o Cole Porter, o Gershwin, o Berlin ou o Jobim, afinal o Chico também é fã. e eu que sou fã do Chico ainda mais que do Porter, Gershwin, Berlin e Jobim, teria umas 20 ou 30 músicas do Chico, sozinho ou com o próprio Tom ou com o Edu ou com o Francis, para figurar entre as 20 ou 30 mais bonitas do mundo. nesse seu último disco mesmo, a valsa Nina é, sem dúvida, das músicas mais bonitas já feitas. o desafio é escolher uma, a música mais bonita do mundo, como a música de Maghé Dyzi, no poema de Pedro Barnez. e tem tanta coisa além do Chico... teve época de eu achar Dindi (olha o maestro soberano aí de novo!) a música mais bonita do mundo. mas tem Samba em Prelúdio, Vinícius e Baden, tem o Mundo é um Moinho, do Cartola, cuja interpretação do Aureo, acredite!, é das melhores do mundo, tamanha a compreensão da obra! ah, tem as músicas instrumentais do Aureo – bem, mas vamos voltar ao quesito canção, que senão também vira zona! tem Drão, do Gil, na voz do Caetano, (aliás, Caetano cantando La Barca ou Billie Jean ou qualquer coisa, é sempre a melhor música do mundo!), tem Nana cantando a Canção do Tempo, de Caymmi, tem Vive, do Djavan, por ele mesmo, Três Apitos, do Noel, cantada por Chico! enfim. de Camisa Amarela, de Ari Barroso, a Asa Branca, de Gonzagão; de Yesterday ou Let it be ou Hey Jude, dos Beatles, a Fake Plastic Trees, do Radiohead, a música mais bonita do mundo nunca é a nossa, mas é sempre como se fosse. (se bem que o Gugu cantando A Culpa, não sei não!). é tudo o que queremos por um momento. depois passa, como as paixões, e surge outra mais bonita e outra e outra. acho que a música mais bonita do mundo está sempre por ser feita e para tanto é preciso amor! Let’s do it e viva o Cole Porter!