a memória privilegiada de um
homem o torna, fatalmente, um romântico convicto ou um cafajeste irremediável,
quando não as duas coisas. me lembro da primeira mulher por quem me apaixonei,
a Fernanda, ainda no segundo jardim. e como eu fosse um tipo assim mais tímido,
ela tomou a iniciativa e, um belo dia, na hora do recreio, passou batom
vermelho, me beijou a bochecha e eu desmaiei de mentirinha, todo bobo. foi! senão
pergunte ao Milton, ao Rafael, ao Thiago, à Carol, à Mariana, toda a turma da
Tia Márcia na Escola Florescer. bem, talvez eles não lembrem, mas eu sim. quem
esqueceria um beijo de batom na bochecha aos 5 anos de idade? depois, no
Instituto Guanabara, mais maduro um pouco, me encantei pela Vanessa, uma morena
linda de olhos amendoados e perninhas grossas. mas essa não me dava bola, só
tinha olhos para o Vinícius Brasil, desconfio que nem nunca trocamos um aceno. passada
a alfabetização tive de mudar de escola porque o Chris fora reprovado e deixei aquele
amor não correspondido pra trás. no colégio novo, comecei um longo namoro com a Cláudia.
daí rolou até beijo na boca e medo de pegar sapinho! ela era doce e, embora
muito ciumenta, ficamos firmes até a segunda série quando, então, pintou a
Stella. foi a primeira vez que minha mãe teve de comparecer à diretoria e
escutar as piores coisas a meu respeito, as quais neguei, é claro, mas
promoveram acareação e o diabo, quase o pai da menina me tira o cinto. um
constrangimento! assim... eu me lembro de tê-la, digamos, acariciado, não era
pra tanto aquele auê! além do mais, eu era só um menino – e um menino
apaixonado! parecia que eu tinha, sei lá, tocado o seu sexo ainda impúbere, num
espasmo precoce de malícia e torpor em plena fila do bebedouro. um exagero que
só os adultos, o Nabokov e a poesia dão conta. saudações ao meu amigo e fiel
escudeiro gordinho, o Leon, que tudo viu e jamais disse palavra. crianças! nunca
fui dado a professoras ou mulheres mais velhas em geral. gostava mesmo das meninas
e, confesso, tive uma vida amorosa intensa até o fim do primário. daí vêm as
espinhas, a maldade, a concorrência, a álgebra, a geometria e o medo de
crescer. pouco importa a memória. se o homem esquece o seu tamanho, passa uma
vida a se apaixonar por menininhas...
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