sexta-feira, 10 de maio de 2013


a memória privilegiada de um homem o torna, fatalmente, um romântico convicto ou um cafajeste irremediável, quando não as duas coisas. me lembro da primeira mulher por quem me apaixonei, a Fernanda, ainda no segundo jardim. e como eu fosse um tipo assim mais tímido, ela tomou a iniciativa e, um belo dia, na hora do recreio, passou batom vermelho, me beijou a bochecha e eu desmaiei de mentirinha, todo bobo. foi! senão pergunte ao Milton, ao Rafael, ao Thiago, à Carol, à Mariana, toda a turma da Tia Márcia na Escola Florescer. bem, talvez eles não lembrem, mas eu sim. quem esqueceria um beijo de batom na bochecha aos 5 anos de idade? depois, no Instituto Guanabara, mais maduro um pouco, me encantei pela Vanessa, uma morena linda de olhos amendoados e perninhas grossas. mas essa não me dava bola, só tinha olhos para o Vinícius Brasil, desconfio que nem nunca trocamos um aceno. passada a alfabetização tive de mudar de escola porque o Chris fora reprovado e deixei aquele amor não correspondido pra trás. no colégio novo, comecei um longo namoro com a Cláudia. daí rolou até beijo na boca e medo de pegar sapinho! ela era doce e, embora muito ciumenta, ficamos firmes até a segunda série quando, então, pintou a Stella. foi a primeira vez que minha mãe teve de comparecer à diretoria e escutar as piores coisas a meu respeito, as quais neguei, é claro, mas promoveram acareação e o diabo, quase o pai da menina me tira o cinto. um constrangimento! assim... eu me lembro de tê-la, digamos, acariciado, não era pra tanto aquele auê! além do mais, eu era só um menino – e um menino apaixonado! parecia que eu tinha, sei lá, tocado o seu sexo ainda impúbere, num espasmo precoce de malícia e torpor em plena fila do bebedouro. um exagero que só os adultos, o Nabokov e a poesia dão conta. saudações ao meu amigo e fiel escudeiro gordinho, o Leon, que tudo viu e jamais disse palavra. crianças! nunca fui dado a professoras ou mulheres mais velhas em geral. gostava mesmo das meninas e, confesso, tive uma vida amorosa intensa até o fim do primário. daí vêm as espinhas, a maldade, a concorrência, a álgebra, a geometria e o medo de crescer. pouco importa a memória. se o homem esquece o seu tamanho, passa uma vida a se apaixonar por menininhas...

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